Durante minha disciplina na faculdade, estudando uma estrutura de
referência chamada Biomecânica, aprendi que o treinamento leva a perfeição. Mas
isso nem de longe se aplica ao mundo das treinantes de um bebê. Durante essa
fase nada é garantido, excetuando-se ansiedades e medos, todo o resto é
indefinido. Nada do mundo garantirá que no fim você terá em seus braços um
lindo bebê saudável e de bochechas rosadas.
Entrei nesse estranho mundo aos 26 anos. Eu e meu marido estávamos
juntos há 10 anos, dos quais há 5 morávamos juntos e 2 estávamos casados
oficialmente. Todos os irmãos do Erik já eram pais, minha irmã já era mãe de
dois lindos meninos. Nos amávamos muito e tínhamos uma certa estabilidade financeira.
A necessidade da maternagem surgiu primeiramente em mim, no começo leve
e doce, como um sonho ainda distante, depois mais intenso. Deixei para lá.
Sabia muito profundamente que a mesma vontade deveria surgir no Erik e de forma
espontânea. Afinal eu queria sonha junto.
Nessa estranha estrada chamada SONHO entrei meio que por acaso. Em
setembro de 2011 tive uma hemorragia de causa hormonal e decidi deixar de usar
o anticoncepcional (AC), meu companheiro diário por 12 anos e tocar pela velha
camisinha. Particularmente tenho uma preciosa meio exigente e que gosta de
toques macios, mas o medo dos hormônios do AC predominou e tentei
"esquecer" daquele ador e aceitar como uma consequência da
minha escolha. No final do ano fomos à nossa cidades natal, Fortaleza, visitar
nossa família. E no meio de tantos sobrinhos, a paternagem bateu na porta do
meu esposo. Em dezembro foi quando ele virou e falou: "Está na hora de
termos nosso Tahimzinho" (Tahim é o sobrenome do Erik). Aquilo me pegou de
surpresa e tive sentimentos opostos ao mesmo tempo. Primeiramente me animei,
mas logo em seguida veio o medo... "e se.... ?". E se eu fosse uma
mãe ruim? E se o Erik fosse um pai ruim? Eu realmente queria um filho? O medo é
engraçado. Trás dúvidas à certezas. Sou perina nisso. Mas resolvi que não iria
decidir... que simplesmente ia deixar rolar. Como assim deixar rolar???? Sempre
fui muito responsável e nunca gostei de deixar minha vida ao acaso. Mas naquele
momento eu não conseguia decidir. Tinha muita coisa envolvida, inclusive muito
medo. Como eu tinha ovários micropolicisticos desde a adolescência e devido à
isso, desde que parei o AC minha menstruação não estava normal, sabia que não
iria engravidar do jeito que estava então falei para meu esposo que não iríamos
mais usar camisinha. Minha preciosa agradeceu!
Tudo aconteceu em dezembro de 2011. Passou janeiro, fevereiro e chegamos
a março. Minha menstruação não vinha há 3 meses! Sentia muitas cólicas. Apesar
de um lado meu achar que a causa era um lindo bebê crescendo dentro de mim, a
maior parte sabia que era a velha Síndrome dos Ovários Policisticos dando as
caras. Fiz alguns testes de gravidez... NEGATIVOS! Aquelas, que como eu sabem o
que é a falta da amiga vermelha vai me entender, é um martírio porque você não
sabe o que está havendo no seu próprio corpo.
Devido as cólicas intensas e frequentes, fui a uma emergência, pois como
minha irmã teve câncer de ovário, eu sou meio neurótica com essas coisas. Após
alguns exames incluindo um beta resultado... ovários tomados de microcistos.
Era a SOP dando oi. Então já que não era nem bebê nem câncer simplesmente
deixei para lá. Ia deixar a natureza seguir seu curso. Chegamos em abril, 4
meses sem a amiga vermelha e muitas cólicas. Não aguentei... voltei para o AC. Esperei
a menstruação ao fim da quarta semana... ela veio certinha como um relógio.
Sempre fico estasiada com o poder desse hormônio em meu corpo, afinal, com
aquelas pequenas pílulas meu ciclo era certinho, lindo, minha pele de
pêssego... tudo funcionava. iniciei um novo
ciclo. Nunca havia passando tanto tempo sem a vermelha, afinal foram 5 meses!
Nunca havia passando tanto tempo nesse limbo que posteriormente passou a ser
bem íntimo da minha nova dinâmica. Essa parte conto depois.
Passou maio, passou junho, chegamos a julho. Cadê a porra da minha
menstruação??? Ai que agonia danada!!! Ficava o tempo todo achando que poderia
estar grávida e também achando que a qualquer momento aquela ingrata ia
aparecer. Marquei uma nova gineco (GO). O nome: Drª Mônica. Ela havia sido indicada por uma paciente minha do pilates.
Estamos em julho de 2012, vou ao consultório da Drª Mônica.
Na época estava trocando o meu plano de saúde da UNIMED para o da Vale. Na
recepção fico sabendo que ela não é credenciada pela Vale. Resolvo realizar a
consulta pela UNIMED e ver se a tal era boa mesmo. Entro na sala. Sento em uma
cadeira de frente para a médica. Ela do outro lado da mesa pergunta o motivo da
consulta. Explico ter um certo problema chato e prolongado com a SOP e que não
menstruava a 2 meses. Falo todo o meu histórico médico, sem esquecer é claro,
do histórico familiar de câncer. Eu nunca esqueço. Ela faz o Papanicolau, senti
o colo do meu útero, faz uma exame abdominal
palpatório, sente meu útero, analisa minha mamas. Por fim fala: “o colo do
seu útero mandou um beijo.” Como assim mandou um beijo? Para onde ele vai? Como
sempre, quando vou a um médico fico esperando uma notícia super bad, o que
nunca aconteceu. Respiro aliviada! Posso ser meio problemática, mas a nível de
perseguida e colo de útero sempre tive muitos elogios dos GO’s.
Me visto, sento à mesa e a Drª começa a falar sobre exames e
medicações. Para a menstruação indicou AC a cada 12 horas durante dois dias.
Perguntou se eu queria engravidar. Ihhhhhhhhhhhh agora ela me pegou. Até aquele
momento eu não havia falado para ninguém, nem para mim mesma que estava
tentando engravidar. Naquele momento eu travei! O que falar? Eu queria, mas não
queria. Eu queria, mas era tão apavorada que o medo sufocava uma vontade enorme
de ser mãe. Finalmente falei que sim. Que queríamos ter um filho. Ainda lembro
claramente! Para mim aquele dia foi um divisor de águas. Durante a conversa ela
de uma forma tão perspicaz que só vi em psicólogos muito experientes me sacou
sem eu precisar falar, ou melhor, nem eu mesma tinha me sacado.
Ela falou: “Olha, você está no limbo (foi a primeira vez que
aquela palavra entrou no meu dicionário de treinante. Posteriormente ele teria
um outro significado, mas naquele momento o que a médica falou sobre o limbo
caiu como uma luva para mim.).
Como assim no limbo?
Sim, você está no limbo por que de fato não se decidiu. Se
você não engravidar é porque não está tentando e se engravidar foi no “sem
querer” e assim não terá culpa. Ela continuou: sei que essa decisão é muito
importante e dá muito medo mesmo, mas não se preocupe, tudo vai dar certo (ela
falou mais ou menos isso).
Quando ela terminou eu ri, senti que aquele momento havia
acontecido uma daquelas cartases que os psocólogos. Não por que a médica disse
que era aquilo, mas pq as palavras delas traduziam de fato o que eu sentia, mas
não podia ou não conseguia externar.
Ela disse então:
"Você precisa se decidir. Converse com seu marido. Caso você
decida engravidar deve tomar um comprimido de Clomid (um indutor de ovulação)
do quinto ao nono dia do ciclo".
Saí de lá com uma clareza sobre meus sentimento e sabia
exatamente o que não me deixava sonhar: o medo. Respirei fundo algumas vezes e
pensei, eu tenho que decidir, mas eu sentia que a decisão já estava tomada.
Pensei muito durante a volta para casa. Já quase chegando parei e pensei: “eu
decidi! Eu quero ser mãe!” Foi naquele momento que eu finalmente deixei meu
coração sentir o que ele queria sentir há algum tempo, mas que eu sufocava.
Quando meu marido chegou em casa, sentei com ele e
conversei. Falei que precisávamos definir e que não podíamos mais deixar ao
acaso. Tínhamos que tomar as rédeas da situação. Perguntei se ele queria se pai
e ele falou que sim. Perguntei se a partir daquele momento íamos tentar de fato
ter um filho. Ele respondeu que sim. Os dados estavam lançados.
2 comentários:
Linda vim conhecer a sua história, estou adorando e louca para saber como foi a realização do seu sonho.
Beijos
Seja bem vinda!!!!
Postar um comentário